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quarta-feira, 25 de julho de 2007

A carta de outra mãe

Na segunda-feira postei aqui uma carta direcionada ao meu filho. Uma carta de amor. Uma carta de vida. Da vida que se tornou tão melhor com a presença dele...
Hoje, através do blog da Mic, tive acesso a uma outra carta. Infelizmente não uma carta de amor. Uma carta triste de uma mãe que perdeu seu único filho no trágico acidente da TAM.
O acidente que aconteceu no dia 17 de julho, mas que pelos depoimentos que já li e assisti, parece que poderia ter acontecido há muito tempo. Os que passam por ali dizem que isso já era previsto. Previsto? E ninguém fez nada? Cadê os órgãos responsáveis? Cadê o governo que deveria fiscalizar esses órgãos?
Bem, eu não tenho acesso ao Congonhas, nunca passei por ali e espero não precisar dele (!), mas isso não minimiza a minha revolta com autoridades que estão mais preocupados em sair bem na foto que vai aparecer no jornal, ou que ficam sentidos porque são recebidos por vaias num evento de grande porte. Passaram a semana muito mais preocupados em achar o bode expiatório para levar a culpa do que tentar resolver a questão e evitar que novos acidentes ocorram. Não vou me surpreender se no final eles disserem que a culpa foi do piloto. Como me surpreender num Brasil que tem profissionais tão capacitados mas que mandam para outro país restos do avião ao invés da caixa preta? Que vexame, meu Deus! Que vexame...
Ficam "satisfeitos" em ouvir que a culpa pode não ter sido deles e zombam da cara do cidadão fazendo gestos obscenos num lugar que deveria ser respeitado. Respeito? Respeito por quem? E o pior, justificam o ato dizendo que foi fruto da indignação que sentiram ao terem sido acusados...
São acusados, senhores governantes, porque estamos de saco cheio de vocês. São vaiados, porque estamos de saco cheeeeeio de vocês! Ouçam bem: Estamos de saco cheio de vocês!
Em que Brasil o meu filho vai crescer? Onde vamos parar?
Tenho sentido falta dos tempos dos cara-pintadas. Porque foi um tempo em que nos unimos e mostramos para eles quem era a voz do Brasil. E é essa voz que não pode calar...
Não vou pintar minha cara, mas vou divulgar aqui a carta da Sra. Adi, mãe de Luís Fernando, morto no acidente da TAM, que está sendo publicada em alguns jornais.
Gente, é só copiar e colar na sua caixa de mensagens e mandar para todos os seus contatos.
A Mic disponibilizou no blog dela os e-mails dos cretinos. Vamos entupir a caixa de entrada deles com a mesma mensagem, para que eles se toquem de que não estão agradando.
Eu já fiz a minha parte e POR ENQUANTO é o que posso fazer.
Vejam bem, POR ENQUANTO....
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CARTA DE UMA MÃE
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Aos governantes e à família brasileira,
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Perdi o meu único filho. Ninguém, a não ser outra mãe que tenha passado por semelhante tragédia, pode ter experimentado dor maior. Mesmo sem ter sido dada qualquer publicidade à missa que ontem oferecemos à alma de meu filho, Luís Fernando Soares Zacchini, mais de cem pessoas compareceram. Em todos os olhos havia lágrimas. Lágrimas sinceras de dor, de saudade, de empatia. Meus olhos refletiam todos os prantos derramados por ele, por mim, por seu filhinho, por sua esposa, por todos parentes e amigos. Por todos os sacrificados na catástrofe do Aeroporto de Congonhas.
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Há muito eu sabia que desastres aéreos iriam acontecer. Sabia que os vôos neste país não oferecem segurança no céu e na terra. Que no Brasil a voracidade de vender bilhetes aéreos superou o respeito à vida humana. A culpa é lançada sobre um número insuficiente de mal remunerados operadores aéreos ou sobre as condições das turbinas dos aviões. Um Governo alheio a vaias é responsável pelo desmonte de uma das mais respeitáveis e confiáveis empresas aéreas do mundo, a VARIG, em benefício da TAM, desde então, a principal provedora de bilhetes pagos pelo Governo. Que a opinião pública é desviada para supostos erros de bodes expiatórios, permitindo aos ambíguos incompetentes que nos governam continuarem sua ação impune. Que nossos aeroportos não têm condições de atender à crescente demanda de vôos cujo preço é o mais caro do mundo. Quando os usuário aguardam uma explicação, à falta de respeito ao cidadão juntam-se o escárnio e a cruel vulgaridade de uma ministra recomendando aos viajantes prejudicados que relaxem e gozem. Assuntos de alcova não condizentes com a reta postura moral e respeito exigidos no exercício de cargos públicos. Assessores do presidente deste país eximem-se da responsabilidade e do compromisso com a segurança de nosso povo exibindo gestos pornográficos. Gestos mais apropriados a bordéis do que a gabinetes presidenciais. Ao invés de se arrependerem de uma conduta chula, incompatível com a dignidade de um povo doce e amável como o brasileiro, ainda alardeiam indignação, único sentimento ao alcance dos indignos. Aqueles que deveriam comandar a responsabilidade pelo tráfego aéreo no Brasil nada fazem exceto conchavos. Aceitam as vantagens de um cargo sem sequer diferenciarem caixa preta de sucata. Tanto que oneraram e humilharam o país ao levar o material errado para ser examinado em Washington. Essas são as mesmas autoridades agraciadas com louvor e condecorações do Governo em nome do povo brasileiro, enquanto toda a nação, no auge de sofrimento, chorava a perda de seus filhos.
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Tudo isto eu sabia. A mim, bastava-me minha dor, bastava meu pranto, bastava o sofrimento dos que me amam, dos que amaram meu filho. Nenhum choro ou lamento iria aumentar ou minorar tanta tristeza. Dores iguais ou maiores que a minha, de outras mães, dos pais, filhos e amigos dos mortos necessitam de consolo. A solidariedade e amor ao próximo obrigam-nos a esquecer a própria dor.
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Não pensei, contudo, que teria de passar por mais um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de ensaiadas e demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a um hábil redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao nosso luto, às nossas vítimas. Palavras que soaram tão falsas quanto a forçada e patética tentativa que demonstrou ao simular uma lágrima. Não, francamente eu não merecia ter de me submeter a mais essa provação nem necessitava presenciar a estúpida cena: ver o chefe da nação sofismar um sofrimento que não compartilhava conosco.
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Senhores governantes: há dias vejo o mundo através de lágrimas amargas mas verdadeiras. Confundem-se com as lágrimas sinceras e puras de todos os corações amigos. Há dias, da forma mais dolorosa possível, aprendi o que é o verdadeiro amor. O amor humano, o Amor Divino. O amor é inefável, o amor é um sentimento despojado de interesse, não recorre a histriônicas atitudes políticas.
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Não jorra das bocas, flui do coração!
E que Deus nos abençoe!
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Adi Maria Vasconcellos Soares
Porto Alegre, 21 de julho de 2007.

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